Desde de criança apreciava demais me expressar através da minha escrita; meu pai percebendo o quanto ficava feliz, quieta e absorta escrevendo, resolveu me incentivar e me ofertar o meu primeiro diário. Nunca me esqueci desse momento tão alegre, e a partir daí, não parei mais de escrever, sonhar, devanear.
E eu mesma comecei a comprar os meus diários, foram inúmeros deles, e através da minha escrita se delineava a minha história; nos momentos que estava alegre, escrevia pouco, pois só pensava em viver, sorrir, sair, passear...Mas o meu companheiro fiel me aguardava dentro da gaveta, sem nenhuma exigência ou cobrança, e nos momentos de tristezas, eu ficava trancada no meu quarto escrevendo, escrevendo, tentando em palavras abarcar e expressar toda a minha dor.
Na minha adolescência, eu tive a minha primeira decepção por apreciar e cultivar o hábito de escrever em diários; eles não tinham cadeados, e infelizmente minha mãe violou a minha intimidade e leu o meu diário, e o pior ficou comentando com meu pai e minhas irmãs o conteúdo dele. Fiquei muito entristecida com a atitude de minha mãe; e esse ocorrido, apenas momentaneamente me inibiu de escrever, mas depois fui melhorando, me alegrando, e resolvi comprar diários com cadeados, para evitar a violação de minha privacidade.
E esse hábito de escrever me acompanhou desde criança até a minha fase adulta; nos momentos mais estressantes, não importando onde eu estivesse, eu escrevia...Como por exemplos, dentro de ônibus, pois o exercício de minha profissão de Oficiala de Justiça, sempre exigiu que eu me locomovesse diversas vezes, a diferentes locais, e os percursos eram tão rotineiros, cansativos, mas eu escrevendo se delineava outras realidades dentro de mim. Quando meu pai estava no hospital, após ser atropelado, nos intervalos de visitas a UTI; eu aproveitava esses momentos, para ficar numa varanda, que tinha uma linda visão do mar na Barra, e ficava lendo os Salmos, orando a Deus, e escrevendo (agora já escrevia em agendas); tentando expressar em palavras toda a minha tristeza, a minha impotência de ver meu pai definhado, a cada dia, no leito de dor...
Outro momento ocorreu quando passei uma grande dificuldade financeira, a mais ou menos, dois anos atrás, e tive de apelar para um empréstimo bancário. Eu apreensiva, não me sentindo muito bem com aquela situação, cheguei cedo no banco e tive de ficar aguardando o estabelecimento abrir...Além de orar, e ficar andando de um lado por outro, fui atraída por um pequeno jardim, e pelo leve balançar das folhas, afagadas ternamente por uma suave brisa que pairou sobre aquele local; e elas me transmitiram consolo, calma. Sei que o Espírito Santo me tocou, me compelindo a observá-las, pois elas submissas se inclinavam sobre a ação do vento, que eu não deveria ficar inquieta com aquele constrangimento. Sendo assim, não pude deixar de escrever, registrando aquele momento; pois a partir daí, pude enfrentar a situação com mais firmeza, aceitação e leveza.
E tantos outros momentos que se relatasse para vocês, com certeza, seria muito cansativo de ler. Resolvi escrever essa mensagem abordando esse tema, porque ontem estava lendo a Bíblia e li dois versículos que expressam com extrema perfeição como me sentir, e ainda me sinto, quando escrevo. Seja de que maneira for, em qualquer lugar que eu esteja; inclusive até antes de começar o culto de alguma igreja.
Quem me dera agora, que as minhas palavras fossem escritas! Quem me dera, fossem gravadas num livro!
E que, com pena de ferro, e com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha. Jó 19:23-24
Sei que, às vezes posso até parecer chata por escrever tanto; mas não posso deixar de registrar um momento especial, ou um momento triste ou outro momento até alegre. Assim como um pintor quando vê uma paisagem que inspire a sua alma, não pode deixar de pintar e registrar aquele momento.
Creio que escrever é um aprendizado diário, quando eu me revelo a mim mesma em palavras; aprecio muito o pensamento de Santo Agostinho quando ele proferiu: ''Eu me confesso ser do número daqueles que, aprendendo, escrevem, e escrevendo aprendem''.
Também aprecio demais um pensamento de Lutero, quando ele expressou tão sabiamente uma preciosa verdade: ''Satanás odeia o uso das Penas de escrever''.
Creio nessa máxima proferida por ele, pois através da nossa escrita, além de ser um aprendizado pra nós, além de ser uma alegria, uma terapia que expressa o mundo que está contido dentro de nós. O dom de escrever é poder fartamente agraciado pelo Espírito Santo; Por ser poder, eu não posso desperdiçar o meu dom, escrevendo coisas que não dignifique a Sua santidade. Através da minha escrita eu posso exortar, revelar, denunciar, repudiar atos e atitudes execráveis, e sempre procurar compartilhar a verdade contida na Palavra de Deus.
Há muitos anos atrás eu tive um sonho muito vívido que eu nunca esqueci...Eu estava num local que via uma piscina enorme inundada de sangue, repleta de fetos boiando; eu me sentia completamente nauseada, mas tinha um senhor que me acalmava e me perguntava se eu poderia ajudá-lo a registrar e escrever aquelas iniquidades, eu soluçava diante daquelas barbaridades que eu via, eu dizia...Sim, Sim!!!
Esse sonho me inspirou a escrever uma mensagem que compartilho agora com vocês, que nossos sonhos, nossas escritas jamais se percam sem dar frutos, nos turbilhões de sofrimentos, que nos acometem e nos rodeiam persistentemente--nosso e do nosso próximo-- algumas vezes tão próximo e outras vezes tão desconhecido...
Eu jamais aguentaria viver sem escrever a minha realidade interior; inclusive compartilhar e retratar, em palavras, os sonhos que Deus têm pra minha vida, que ainda vão se realizar, e tantos outros que se realizaram, graças a Sua grandiosa benignidade e amor.
Só mais um alerta, Deus também incansavelmente escreve e registra todos os nossos atos, por mais insignificantes que sejam para nós; um Pai jamais deixa de observar o seu Filho ou sua filha, mesmo que não consigamos perceber ou aquilatar a Sua presença. O sábio e temente servo de Deus, Jó, teve o discernimento espiritual de perceber essa verdade-- o quê os nossos olhos não veem, mas pela fé cremos piamente.
Por que escreves contra mim coisas amargas e me fazes herdar as culpas da minha mocidade?
Também pões os meus pés no tronco, e observas todos os meus caminhos, e marcas os sinais dos meus pés. Jó 13:26-27
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