Ócio é a pausa, permissão delegada a mim mesma, sem fazer nada, para pensar em tudo o que eu almejo fazer!
Acordar, enquanto outros dormem; andar nas ruas desertas com os passarinhos; dançar na chuva sem me preocupar com os olhares dos curiosos; nem tampouco me estressar com o cabelo desarrumado, molhado; a roupa, aquela que eu guardava no meu guarda-roupa, aquela, que comprei para ocasiões especiais, agora uso-a no meu dia a dia; agora escrevo, escrevo, até cansar os dedos; leio e releio a Bíblia, com todo o tempo disponível, tendo toda atenção e desprendimento, para ser guiada com sabedoria pelo Espírito Santo nessa viagem ímpar e prazerosa.
Me permito ser ociosa para ouvir aquela música que aprecio tanto, repetindo-a inúmeras vezes; me detenho em observar o bem-te-vi que pousa na minha varanda, tento me aproximar dele bem devagarinho e ele artreiro voa; mas agora tenho todo o tempo do mundo, para esperá-lo voltar... agora posso ir naquela agência de viagens e indagar a vendedora, me dando o luxo de sonhar, programar, com muita antecedência, aquela viagem que tanto almejo.
Sou uma mulher muito ociosa, mimosa, primorosa aposentada, mulher madura, mais ainda em pleno vigor físico, nunca me sentir tão renovada, livre, revigorada e em paz; pois consigo apreciar pequenos momentos, que antes pela correria na minha vida profissional, eu não podia, nem enxergava, nem dava valor--como por exemplo comprar abacaxis, e descascá-los com a maior paciência (entendendo o sentido figurado da frase:' vá descascar o seu abacaxi! Resolva o seu problema!') e ao mesmo tempo, saborear a sua doçura, o seu caldo escorrendo entre os meus dedos.
Não tenho mais hora de acordar ou dormir, tem momentos, que até me esqueço qual é o dia da semana...meu tempo agora é contado pela satisfação dos meus pequenos desejos, aqueles que antes eu adiava, postergava.
Agora eu tenho tempo para contar todos os coqueiros da minha cidade, haja coqueiros para contar!; também observo a imensidão do céu e conto as estrelas, no mesmo momento que penso, uma delas caí na minha mão, mente; e aí eu tento troçar, acarinhar, brincar com ela, através das palavras; sem temor, receio, aprendi a sorrir dos meus tropeços, inabilidade de dançar aos embalos da vida; músicas que jamais param de tocar, me inspirando a levantar...agora, ociosa, também aprendi a lição.
Todos os dias oro, clamo, agradeço ao Senhor pela dádiva recebida, o quanto eu fui recompensada por começar a trabalhar tão cedo e agora tenho a dádiva de desfrutar, gozar o meu devido descanso, ócio; mas um ócio criativo, que eu posso legar, algo de bom e especial, ao meu próximo, sendo uma companheira mais alegre, calma, atenciosa e sábia.
Eis aqui o que eu vi, uma boa e bela coisa: comer e beber, e gozar cada um do bem de todo o seu trabalho, em que trabalhou debaixo do sol, todos os dias de vida que Deus lhe deu, porque esta é a sua porção.
E a todo o homem, a quem Deus deu riquezas e bens, e lhe deu poder para delas comer e tomar a sua porção, e gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus.
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