sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A MISSIVA



A missiva serve para rabiscar o rastro da dor
   Atingindo como uma flecha certeira o coração do viajante
Manchando-se  com tinta indelével do torpor
Sem mais esconder o pensamento vibrante
Que responde rapidamente com ardor
A distante eloquência do amor perseverante.
 
 
 
 
 
 
 
 
''Permaneço no escuro como um cego
Porque meus olhos não te encontram mais
A faina turva dos dias para mim
não é mais que uma cortina que te dissimula.
Olho-a, esperando que se erga
esta cortina atrás da qual há minha vida
a substância e a própria lei da minha vida
e, apesar disso, minha morte.
Tu me abraçavas, não por desrazão
mas como a mão do oleiro contra o barro
A mão que tem poder de criação.
Ela sonhava de algum modo modelar –
depois se cansou,
se afrouxou
deixou-me cair e me quebrei.
Eras para mim a mais maternal das mulheres,
eras um amigo como são os homens,
eras, a te olhar, mulher realmente,
mas também, muitas vezes, criança.
Eras o que conheci de mais terno
e mais duro com que tenho lutado.
Eras a altura que me abençoou –
te fizeste abismo e naufraguei."
 
(Palavras escritas pelo poeta Rainer Maria Von Rilke,
 para a sua amada, musa inspiradora Lou Andreas Salomé)








 

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