quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O BONECO DE NEVE




O boneco de neve estava lá fora, os seus olhinhos tristonhos apelavam tanto por minha amizade; e  um dia resolvi lhe dar abrigo, trazendo-o para a minha casa;  mas, por mais, que tentasse aquecê-lo com os meus braços ele continuava gélido; eu tremia de frio só para tentar lhe oferecer carinho, confiança e maior aconchego; mas ele continuava entristecido e nem falava comigo, era totalmente mudo, não conseguia articular palavras, e nem tampouco conseguia responder as minhas indagações, o silêncio pairava entre nós; e eu começava imaginar como seria o seu sorriso, nós sendo realmente amigos, brincando de rodopiar na calçada.
 
Continuei persistente querendo agradá-lo, lia com muita assiduidade para ele, só pra estimulá-lo a sonhar, acreditar; mas a cada dia eu percebia, que por mais, que me esforçasse não conseguiria conquistar a sua amizade; então resolvi colocá-lo num local bem distante de mim. para que não pudesse ver os seus olhos tristonhos de novo.
 
Mas o inusitado ocorreu, eu passei  a ter o boneco de neve habitando dentro de mim; e comecei a me comportar igual a ele...a apreciar o silêncio, a me esquivar de indagações, de conversas, de pessoas, de maiores envolvimentos; a sentir calafrios de frio, acordando no meio da noite, sentindo a sua presença; então resolvi que não poderia mais ter um amigo tão perturbador e inconveniente; e no outro dia resolvi procurá-lo de novo...
 
E ele ainda estava no mesmo lugar que o deixei, estático, emudecido e gélido, sem demonstrar nenhuma reação ou sentimento ao meu respeito; então peguei a minha pá e o golpeei inúmeras vezes; e ele caiu, foi aí que eu percebi que ele era apenas um simples boneco de neve; criado com as minhas próprias mãos e apurada imaginação; o boneco de neve foi o meu projeto malogrado; na verdade amei a mim mesma; eu fui arquiteta, engenheira, construtora de meu sonho almejado e da fantasia realizada...o boneco de neve se dissolveu como água diante das minhas lágrimas ...
 
Chorei, chorei  da minha extrema tolice, da minha inocência em amar e me apegar a um simples boneco de neve...
 
Depois de muito tempo, num dia qualquer, o sol raiou, percebi que ainda estava viva e conseguir enxergar pela janela um homem real (de carne e osso)  andando pela minha rua; ele percebeu a intensidade do meu olhar e se virou, me olhando, me enxergando  e me ofertando um inigualável sorriso, no mesmo instante percebi a diferença entre a realidade e uma fantasia; novamente ele sorriu e eu, apenas retribuir  o seu sorriso; mas não tive coragem de sair de casa para conversar com ele...
 
Mas a sua imagem permaneceu nos meus pensamentos e eu orei, orei muito,  agradecendo a Deus por ter me dado  um pequeno vislumbre do que seria e é um homem de verdade; sei que agora estou amadurecida espiritualmente,  para finalmente sair  e viver a realidade, sem ser fruto da minha imaginação, em criar apenas um boneco de neve...

''Imaginação é um boneco de neve que se dissolve diante da realidade''.
 
 
''Você não pode confiar em seus olhos quando sua imaginação está fora de foco''. (Mark Tawin)
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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